quarta-feira, 15 de junho de 2016

Nicole Borges, 20

Raquel Stanick
Série: Mortalha
Título: Nicole Borges, 20
Esferográfica s/ Kraft
20x20
2016                                                                                                                                                                    
Fonte: http://www.alegriafalhada.com.br/a-morte-e-a-morte-de-uma-travesti/

"...Nicole foi morta por toda uma sociedade profundamente doente que não respeita as pessoas trans*, que a elas categoriza como lixo, como farsas. Nicole foi morta por que as piadas e as conversas giram em torno do seguinte, ao se referir às mulheres trans*: “mas mulher ter pênis não existe”, “mas não pode ser mulher”, “mas não é mulher”. Ou seja, Nicole não pode ser vista como homem – já que ultrapassou as fronteiras que a sociedade erigiu para o que considera adequado a um homem [se tiver de ser vista como homem, será como homem doentio, justamente por ter transcendido] e, também não pode ser vista como mulher, já que parece-nos que diante dos argumentos com único intuito de desqualificar a humanidade de Nicole, só a biologia é que poderia auferir e laudar essa mulher como… mulher; e se cromossomos, hormônios e genital não estiverem condizentes com a regra biológica do que é ser mulher, então os preconceituosos e senhores de toda a verdade não aceitarão Nicole como mulher. Não pode ser aceita como homem, não pode ser aceita como mulher e, com isso, vamos afastando a humanidade de Nicole dentro de uma sociedade que normatizou apenas duas possibilidades: homem ou mulher – agora, já não mais humana, podemos tratá-la da forma como bem quisermos e dizer que respeito é algo que só nós é que merecemos; agora, já não mais humana, podemos tratar Nicole de qualquer jeito e podemos não mais nos importar para a notícia, para a forma como é veiculada e para todos os possíveis [e certamente prováveis] comentários que desqualificarão a vítima. Afinal de contas, Nicole era travesti, logo, está tudo explicado: paremos de nos debruçar sobre o crime. Estávamos falando de um crime?..."

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